segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Interpretação das curvas de crescimento

Quem de nós, mães, não se deparou já com as curvas de crescimento, que a cada consulta com o pediatra lá vai ele pesar e medir o nosso pequeno e analisar no gráfico se está tudo dentro dos parâmetros.
É acerca desta analise que hoje vos quero falar. A quantas de vocês o pediatra já disse que o vosso filho está abaixo do peso? A quantas de vocês foi aconselhado a adição de suplemento (LA)? 
Eu conheço vários casos pessoalmente e alguns li em blogs que sigo e isto me fez pensar.
Sou seguidora fiel de Carlos Gonzálvez (doutor em Pediatria e escritor de vários livros sobre a criança e a alimentação  infantil). Ele defende que as curvas de crescimento são, a maioria das vezes, mal interpretadas pelos profissionais de saúde e explica os erros que frequentemente são cometidos. Erros estes, que levam muitas vezes ao insucesso da amamentação, à introdução de complemento quando este não é necessário ou mesmo em casos mais graves à obesidade infantil.
Neste vídeo, Carlos Gonzálvez deixa todo muito claro, apresentando até alguns exemplos práticos, visto o vídeo estar em espanhol e eu achar que o assunto merece ser partilhado com vocês fica aqui o meu resumo para aqueles que não dominam a língua.


Estudos realizados mostraram que as antigas curvas de crescimento (norte americanas e que eram usadas pelos pediatras) não coincidem com gráficas realizadas com um conjunto de bebés amamentados durante um ano. Os bebés exclusivamente alimentados com leite materno engordam mais rapidamente no inicio da sua vida, mas a partir dos 2-3 meses engordam menos e estas curvas de crescimento indicam que a maioria destes bebés estão abaixo de peso e daí a implementação de suplemento. E porque é que assim é?
As gráficas antigas foram elaboradas a partir de um grupo de crianças que não tinham sido exclusivamente amamentadas, o que conduziu a um problema grave: a partir dos 2-3 meses de idade de bebés amamentados as mães eram levadas a achar que os bebés não estavam a mamar o suficiente ou que o leite estava a falhar, Eram mesmo aconselhadas pelos médicos a adicionar complemento, o que levava a consequente diminuição do leite materno, tornando aos olhos da mãe a premissa irróneamente correcta.
Com estas curvas de crescimento não foi tido em conta que existe um padrão de crescimento distinto entre bebés amamentados e bebés com LA, estes últimos alteram o seu metabolismo e acabam engordando mais.
Devido a estes factos as curvas de crescimento foram recentemente actualizadas e podem ser consultadas neste site: http://www.who.int/childgrowth/standards/en/ No entanto, existem muitos profissionais de saúde que ainda utilizam as curvas de crescimento anteriores.


Continuam mesmo assim a existirem erros na interpretação das curvas de crescimento.
O que são afinal estas curvas? 
São conjunto de curvas adequadas para avaliar o crescimento e estado nutricional tanto de grupos de população quanto de crianças em idade pré-escolar. São feitas recorrendo a um número elevado de bebés (bebés saudáveis) que são pesados e medidos e a partir dos valores obtidos construídos gráficos.
O que significa então o percentil 50?
Significa que 50% dos bebés usados na construção do gráfico (os quais pretendem representar a população) têm um crescimento segundo está linha de percentil.
Se o bebé está abaixo do percentil de 3% pode ser um bebé que está com problemas, mas também pode ser um dos 3% de bebés que é perfeitamente normal, simplesmente tem um baixo peso em comparação com a média da população.
Ou seja, quando se diz que os bebés têm que crescer de acordo com as curvas de crescimento quer dizer que numa população (cidade, pais) tem que haver mais ou menos 50% de crianças abaixo do percentil de 50%. Se por exemplo nesse pais não existe 50% de bebés abaixo do percentil 50 quer dizer que este país pode estar a sofrer um problema de obesidade infantil. O mesmo ocorrendo quando num pais não existem 50% de crianças acima do percentil 50%, indicando este problemas de desnutrição.
A aplicação das curvas é óptima para estudos de população, a sua interpretação a uma criança tem que ser diferente e feita com muita atenção.
Dizer-se que quando um bebé está abaixo da média está mal. É um erro frequente e grave. É uma média. Certo? Se todos os que estão abaixo desta ficarem acima, esta deixa de ser a média.
Este erro na interpretação das curvas está a levar-nos a problemas graves de obesidade infantil, pois se se pensa que estar  abaixo da média não é normal, acaba-se por conseguir que todas as crianças fiquem acima da média.
A última recta não significa o mínimo. O que significa o 3? Significa que 3% dos bebés que entraram na pesquisa que eram completamente saudáveis e que representam uma população, estão abaixo desta linha. Logo se o deu filho está abaixo do percentil 3 pode fazer simplesmente parte desse 3% da população de bebés saudáveis. Aqui o pediatra deverá analisar a situação com uma atenção especial.
O seu filho está no percentil 25? É uma criança saudável? Então, muito provavelmente, ele faz parte dos 25% da população que segue este peso.

O que temos de ter em atenção na interpretação dos gráficos:
- As linhas de percentil não são caminhos a seguir, são sim resultado da média de um conjunto de pontos que levaram à sua obtenção. A linha de crescimento do seu filho não será  seguramente uma linha perfeita;
- Bebés exclusivamente amamentados não aumentam de peso de forma igual a bebés alimentados com leite artificial;
- É normal nos primeiros 6 meses de vida cruzar a linha de percentis o que não indica, salvo raras excepções de doença do bebé, problemas, o bebé está sim a encontrar a sua normalidade;
- Emagrecimentos bruscos devem ser analisados com atenção;
- Grandes variações na relação peso e altura devem ser consideradas, se o filho tem uma altura muito inferior à média e um bom peso não se trata de um problema de alimentação, mas poderá indicar problemas endócrinos;

O mais importante é escutar a mãe, respeitar a sua preocupação. Antes de dar suplemento o mais indicado é analisar como está a ser o bebé alimentado, se está a ser amamentado a que intervalo de tempo ocorre cada mamada. O bebé pode não estar com problemas mas na maioria dos casos o suplemento é aconselhado e este vai piorar a produção de leite.
Existem casos em que o bebé engordou 80g e segundo a interpretação do médico deveria engordar 85g  e lhe é dado suplemento!! Neste caso este não faz sentido. E sei que não é fácil para uma mãe, que não quer certamente ver seu filho a passar mal, recusar a opinião do médico. Mas vamos pelo menos tentar estar mais atentas na interpretação feita a estas curvas e não nos fixemos excessivamente a elas.
E claro que infelizmente existem crianças com problemas de peso e mães com problemas de produção de leite mas estes não são a maioria e deverão ser correctamente diagnosticados.

Espero ter deixado claro o que queria transmitir, pois considero o assunto muito importante, mas não foi nada fácil  :)
Uma óptima semana

11 comentários:

Especialmente Gaspas disse... [Responder Comentário]

Nunca liguei muito a estes gráficos nem às balanças. ele tem sido saudável e crescido e isso é o mais importante para mim.

Achava um "frete" ter de ir pesa-lo todas as semanas nos primeiros tempos, principalmente pq ele mamava muito bem e sentia-o a crescer.

Ah... o rapaz é um percentil baixo... :P

Paloma Varón disse... [Responder Comentário]

Post maravilhoso, Sofia. Adorei assistir a uma palestra do Dr. González! Também virei sua fiel seguidora e estou devorando todos os seus livros. Mas, com a minha primeira filha, sofri muito com estes gráficos. Demorei mais de um ano para entender que a média não era algo a ser seguido. Com a segunda filha, já tendo entendido isso, levo tudo de forma tão mais tranquila...
Beijos

Anne disse... [Responder Comentário]

Olá Sofia, que bacana essa informação, eu adorei!! O Joaquim foi amamentado exclusivamente no peito e engordou exponencialmente nos primeiros 5 meses. Com 6 meses, pesava 9kg. Desde então engordou só 100g e houve uma sugestão para introduzir LA... mas eu ignorei. Tem cabimento um bb de 9kg com 8 meses precisar de LA?
Realmente os pediatras parecem mais focados na evolução da curva do que na individualidade do bb. Temos mesmo que ser muito informadas. bjos excelente post

Sofia disse... [Responder Comentário]

Paloma: É mesmo isso que eu acho, entender as curvas de crescimento e não viver coladas a estas dá mesmo uma tranquilidade.

Anne: Por vezes chego a achar que além do problema de má interpretação pelos médicos das curvas de crescimento existe um interesse comercial. Médicos a ganhar em alguma coisa em troca de LA vendido, ai ai um assunto para outra oportunidade... Ainda bem que ignoraste a opinião do médico mas nem sempre é fácil. E infelizmente muitas mães acabam sendo enganadas sem saber...

Kah disse... [Responder Comentário]

O pediatra da Juh nem me fala em curvas de crescimento mais... Enquanto a Juh estiver se desevolvendo bem, comendo e mamando, ignoro completamente! Cada um é cada um, eu sou magrinha mesmo, um palito, e sou extremamente saudável segundo todos exames...

Acho que muitas vezes existe uma preguiça enorme por parte médica em colocar em prática que 'cada um é cada um' e analisar caso a caso, o que, obviamente dá mais trabalho.
Beijão!

Alma disse... [Responder Comentário]

Maravilhoso este post Sofia, como sempre, abordas temas super interessante e uteis e de forma bem intelegível.
Eu felizmente nunca tive esse problema, o pediatra do Menino A. é um pouquinho avesso a essas "modas". O Menino A. apenas nos primeiros 15-20 dias é que teve pouco peso e nessa altura houve uma enfermeira da Ordem onde fiz o parto que me disse que tinha que iniciar suplemento, como eu não o queria fazer disse á Srª Enfª que iria falar com o pediatra sobre isso, quando lhe falei a resposta foi :« a srª que continue a pesar bebés e a ver a cicatrização do humbigo que é essa a sua função e que me deixe fazer a minha», conclusão nunca me sugeriu introduzir nada aenas me disse para ter paciência e ficar tranquila porque era uma questão de adaptação e rápidamente o bebé recuperava peso, soube que o pediatra falou incluvisé com a Irmã responsável pelo serviço para que as enfermeiras não o voltassem a fazer.
O que é verdade, verdadeira é que passados esses dias o Menino A. ficou com percentil 75-90 e é até hoje de percentil 90-95 :D
bjs

Sarah disse... [Responder Comentário]

Ficou claríssimo Sofia!! Sempre tive pé atrás com essas curvas. Com certeza representam uma média, não um padrão universal. Cada bebê é um bebê! Devemos considerar não apenas a forma de alimentação, se com leite materno ou artificial, mas também se o bebê é prematuro (provavelmente vai ganhar peso mais devagar), a genética da família... Bento, por ex, nasceu de 36 semanas, mas sempre foi grande com peso maior do que as médias das curvas, pois o pai dele tem 1,93m!
Por isso, não devemos nos guiar apenas pelos padrões, mas sim pelo histórico da família e pelo desenvolvimento geral do bebê.
beijo!

Alma disse... [Responder Comentário]

Olá,querida Sofia!
Como estás? Desculpa o abuso mas a verdade é que os laços vão-se criando inexplicávelmente e como já há dias que não temos notícias tuas, estou um pouco inquieta, espero que esteja tudo bem por aí.
Bjs
Alma

Adriana Alencar disse... [Responder Comentário]

Muito esclarecedor Sofia!
Meus filhos sempre estiveram acima do percentil 50, mas quando o mais velho baixou um percentil em altura eu não me preocupei, pois o peso estava bom e, em dois meses, ele voltou novamente ao percentil anterior... Acho que devemos olhar para eles mais para acompanhar se há grandes variações, que seriam preocupantes. Vou conferir os gráficos novos que você indicou no link.
Bj
Adri

Karine (Nut. Infantil) disse... [Responder Comentário]

Olá Sofia!!!!!
Adoro esse texto. Para analisar a curva, o profissional precisa também fazer uma ananmese alimentar, clínica, verificar sinais e sintomas tudo com sensibilidade. E precisa de tempo para tudo isso!
Parabéns pelo blog!!!
Beijos

simone alves disse... [Responder Comentário]

Olá Sophia! Realmente muito bom este post, pois minha Sophia mama até hoje e já tem 1 ano e 9 meses e no primeiro ano quando praticamente só se alimentava de leite materno engordava muito e depois disto, comendo comida passou a engordar muito pouco, inclusive a pediatra disse que era culpa da amamentação pois ela mamava muito em vez de comer... fique super preocupada embora ela não esteja magra, tem crescido bem só tem ganho pouco peso mas é saudável, agitada, não para o dia inteiro, quando ouvimos que nosso filho não está engordando levamos logo para o lado de não estarmos sendo boas mães...

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